terça-feira, maio 11, 2010

Dia das Mães: a filha



Domingo foi Dia das Mães, e eu me enrolei o dia todo pra escrever algo. Não saiu nada. Nenhuma linha.
Bom, esse foi um dia das mães diferente pra mim e em função disso vou escrever dois post de diferentes ângulos, aqui na visão de filha e em homenagem à minha mãezinha, e no Conversa pra Mãe Dormir escrevo como mãe.
Aproveite e comente nas duas postagens, ok?



Domingo me recolhi com meu filhote e fiquei quieta no meu canto. Convite não faltou, de todos os lados, para almoçar aqui ou ali. Mas esse ano eu não estava comemorando, apesar de ser meu dia também. Esse ano eu queria me recolher, ficar quietinha no meu canto, lembrar de todos os nosso momentos, de você, da sua alegria de viver e da falta que me faz a tua presença, mãe. Foi o meu primeiro Dia das Mães sem você por perto. Foi difícil não escolher um presente, não te fazer uma surpresa, não te escrever uma cartinha que seja e te ver lendo emocionada minhas singelas palavras, como em todos os anos anteriores. E em função disso, resolvi colocar aqui a minha homenagem pra você. Eu sei que você esteve e estará sempre presente em minha vida. E sei também que onde quer que você esteja está recebendo esse carinho que te faço agora.

Falar da minha mãe é falar de uma mulher guerreira, batalhadora, gentil e sobretudo amiga pra todas as horas. Ela era assim, pequena no tamanho, mas gigante na alma e na grandeza de espírito. Uma pessoa iluminada, um coração gigante onde cabia sempre mais um. E apesar de ter somente me parido, foi mãe de um mundo de gente, pois todos que a conheciam se encantavam, e usavam e abusavam de seu colo.

Muitas vezes, durante minha adolescência, minhas amigas íam em minha casa pra conversar e pedir conselhos pra ela. E ela tinha sempre algo de bom pra passar e ensinar. Nem sempre passando a mão na cabeça, pois a baixinha quando tinha que falar algo, era na lata, sem rodeios. Mas de uma doçura que fazia todo mundo se apaixonar.

Essa mulher lutou muito, foi uma costureira de mão cheia, fazia roupas para as grã-finas de São Paulo viajarem pela Europa e só não ficou rica porque não sabia cobrar, não colocava preço na sua arte. Era detalhista e exigente, não suportava ver uma vitrine com uma roupa amassada ou uma costura enrugada. Esse era o seu grande diferencial.

Lá pelos idos dos anos 70, minha tia, irmã dela, foi pra São Paulo fazer faculdade. Minha mãe teve receio de deixá-la sozinha e se mandou junto. Ela era assim, se entregava e abdicava das suas coisas pelos outros. Claro que estar em São Paulo naquele tempo abriu muitas portas pra ela, e ela conseguiu muitas freguesas ricas para costurar. Nesse mesmo período conheceu meu pai. Os dois tentaram um filho por uns dois anos, mas ela não engravidava. Quando desistiu pois achava que já era tarde (ela tinha então 41 anos) eu cheguei. Mas o sonho da família perfeita estava longe de se concretizar, cinco dias após o meu nascimento meu pai faleceu, teve um ataque cardíaco fulminante. E aquela mulher estava sozinha mais uma vez, só que agora com um bebê de dias pra cuidar e sem salário fixo ou qualquer benefício já que trabalhava por conta.

Sem poder trabalhar em função da cesárea e por ter que cuidar de mim, ela dependeu um pouco da ajuda da família e dos amigos que fez, pois meu pai era autônomo e não deixou pensão nenhuma pra ela. E assim que as coisas se acalmaram eu fui pra creche e ela começou a ralar na máquina. Varava dias e noites costurando pra nos sustentar. E nunca me faltou nada, apesar da simplicidade que sempre vivemos.

Quando eu tinha 12 anos, ela adoeceu. Uma artrite-reumatóide que deformou suas mãos e pés e a deixou praticamente de cama nos primeiros anos, e claro, sem poder costurar mais. Eu passei então a ser um pouco mãe dela, cuidava da comida, da roupa, ajudava-a a tomar banho. E apesar das dores que ela sentia, não reclamava nunca.

Quem a conheceu sabe o exemplo de mulher que ela sempre foi. Me sinto mal em reclamar de uma dorzinha que seja depois de presenciar todos esses anos que ela sentia dores terríveis e tava sempre rindo, brincando, e com uma força indescritível.

Mãe, eu sempre soube e valorizei a mãe que tive, que abdicou da sua vida por mim e me criou com tanta força. Mas hoje sofro por não ter feito mais por você. Sofro pelas vezes que brigamos, que eu te respondi algo de modo agressivo, que eu não soube interpretar nos teus olhos o que você estava sentindo. Você que sempre esteve pronta pra me dar apoio, colo, carinho. Eu sei que fui uma boa filha, mas você merecia que eu fosse a melhor filha do mundo. Saiba que te amo muito e que sinto tua falta todos os dias. Ontem lembrei de tantas histórias, de tantas coisas. Hoje tava vendo um vídeo no nosso paçoquinha em que ele fala com o pai, e fiquei culpada de não ter filmado você, no vídeo só posso ouvir sua voz e eu deveria ter te filmado, registrado pra sempre aquele momento tão delicioso de ver nosso pimpolho crescendo. Chorei sim, chorei muito quando ouvi tua voz hoje, pois eu sei que nunca mais vou poder voltar naquele dia, um mês antes de você partir.

Obrigada por tudo o que você foi e fez por mim. Obrigada pela vida, pela educação que me deu. Obrigada pelo exemplo que você sempre foi pra mim.
Te amo muito, muito, muito. Sinto a sua falta.

 (minha mãe Nilza, eu e o Chico - no dia que ela conheceu o neto)

um beijo, da tua filha...
Pilar


Share |
Related Posts with Thumbnails