terça-feira, novembro 06, 2012

A vida em caixas

A minha vida está novamente guardada em caixas e espalhada por todos os cantos. Prestes a mudar de cidade, de lugar, de apartamento. Novamente prestes a correr o risco de seguir em frente e aquela sensação de tudo novo no ar: novo apartamento, nova cidade, novo trabalho. O medo de quebrar a cara mais uma vez ao mesmo tempo sensação de estar prestes a realizar algo grande. Alguma coisa tem que dar certo, não é possível.

Já imagino paredes pintadas e decoradas, quartos novos, novos projetos, novas pessoas, novas ideias, novos amores quem sabe. A mesma vibração de fazer algo diferente. Voltar ao lugar onde se sente bem, mas o medo de continuar tudo igual. Mudança é algo muito contraditório. A gente se acostuma a uma rotina e é difícil quebrar esse ritmo. Mas quando conseguimos quebrá-lo parece que a vida ganha um pouco mais de cor e de sentido.

Em épocas como essas sempre fazemos um balanço de nossa vida. Jogamos fora coisas acumuladas sem razão, aquela roupa que nunca usamos, aquele enfeite que nem sabemos o porquê de estar na estante. Coisas que não mais nos definem e nem tem a ver com o atual momento. Relembro que não li aquele livro que comprei no impulso e mais uma vez o separo dos outros com a promessa de lê-lo assim que possível. Vejo o quanto acumulo coisas, coisas das quais eu nem mesmo gosto. Presentes de alguém que nunca me conheceu de verdade. 

Dizer que não tenho medo de mudar? Com certeza vou estar mentindo. Claro que eu tenho medo, muito medo. Mas nessa vida já mudei tanto que sei que mudanças nos fazem muito melhor. Sou um pouco cigana, desde pequena já vivi em tantas cidades que perco as contas de quantas vezes tive a vida assim em caixas. 
A única coisa que ainda não tive coragem de fazer foi de pegar uma mochila, colocar nas costas e com meu filho na mão sair sem rumo pelo mundo. Ainda preciso de um porto seguro, de um lugar para voltar, de uma cama ou um colchão pra chamar de meu. Não preciso de grandes luxos, mas não consigo pensar em viver longe dos meus livros e dessa sensação de ter um lugar. 

Hoje me peguei pensando bastante no porquê de acumular tanta coisa que eu não preciso. Desde enfeites até louças que nunca usei e sei que nunca vou usar. Acho que vou me desfazer de metade do que tenho ultimamente. E não quero mais acumular tanta coisa que não uso. Somos consumistas e nesse impulso acabamos comprando coisas inúteis. O tempo passa tão rápido e perdemos tempo acumulando coisas ao invés de viver o que a vida nos mostra.
Fiz menos do que gostaria, fui a menos espetáculos do que queria, deixei de ver tantos shows dos quais sonhei, viajei menos do que gostaria. E porquê? Porque gastei muito tempo e dinheiro em coisas que não uso e em nada me acrescentam. Passei meus dias preocupada com contas e esqueci que o que levamos da vida foi a vida que vivemos e não o que juntamos.

Agora a vida me dá uma nova oportunidade. Vou destemida e ao mesmo tempo apavorada com o que pode acontecer, mas vou. Aprendi que não adianta se acomodar e ficar no mesmo lugar. Vambora correr o risco mais uma vez. Se não der certo, não deu. Paciência. Mas eu tentei, arrisquei, fui atrás do meu sonho. E sinto que vou mais leve do que quando cheguei, vou deixar coisas pelo caminho, me desfazer desses "enfeites" que nunca me traduziram. Vai ser difícil não acumular mais quinquilharias ao longo da estrada, mas eu vou tentar viver mais e juntar menos. Acumular experiências, lugares, pessoas, cheiros e gostos mais do que coisas materiais. No máximo uma fotografia de um por-do-sol incrível. 

E se não der certo? Mudo de novo, de novo e de novo. Uma hora eu hei de acertar.

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