domingo, abril 22, 2007

.:E vamos de Hilda novamente:.

De novo ela, sarcástica ao extremo. Vamos novamente de Hilda Hilst. Tenho que transcrever a crônica que acabei de ler. Improvável, impagável, impossível. Magnífica.

CRONISTA: FILHO DE CRONOS COM ISHTAR

Uma das coisas que eu mais admiro em alguém é o humor. Nada a ver com a boçalidade. Alguns me pedem crônicas sérias. Gente... o que fui de séria nos meus textos nestes quarenta e três anos de escritora! Tão séria que o meu querido amigo, jornalista e crítico, José Castello, escreveu que eu provoco a fuga insana, isto é, o cara começa a me ler e sai correndo pro funil do infinito. Tão séria que provoco o pânico. E nestas crônicas o que eu menos desejo é provocar o pânico... Já pensaram, a cada segunda-feira, os leitores atirando o jornal pelos ares e ensandecendo? Já pensaram o que é isso de falar a sério e dizer por exemplo: que é isso, meu chapa, nós vamos todos morrer e apodrecer (ainda bem que não é apodrecer e depois morrer, o lá de cima foi bonzinho nesse pedaço), tu não é ninguém, meu chapa, tudo é transitório, a casa que cê pensa que é sua vai ser logo mais de alguém, tu é hóspede do tempo, negão, já pensou como vai ser o não-ser? Tá chateado por quê? Tu também vai envelhecer; ficar gling-glang e morrer... (há belas exceções, como o Bertrand Russell fazendo comício aos noventa, mas tu não é o Bertrand Russell). Até o Sartre, gente, inteligentíssimo, ficou na velhice se mijando nas calças e fazendo papelão... Se todo mundo pensasse seriamente no absurdo que é tudo isso de ser feito de carne, mas também olhar as estrelas, de ter um rosto, mas também ter aquele buraco fétido, se todo mundo tivesse o hábito de pensar, haveria mais piedade, mais solidariedade, mais compaixão e amor.
Mas quem é que vocês conhecem que pensa? As mães que nos colocaram no planeta pensaram? Claro que não. Na hora de revirar os óinho ninguém pensa. Só seria justificável parir se o teu pimpolho fosse imortal e vivesse à mão direita Daquele. Mas o teu pimpolho também vai morrer e apodrecer não sem antes passar por todos os horrores do planeta. Tá jogando fora o jornal, benzinho? Então vamos brincar de inventar uma nova semântica:

SEMÂNTICA: Antologia do sêmen
SOLIPSISMO: Psiquismo solitário
HIPÉRBOLE: Bola grande
XENOFOBIA: Fobia de Xenos
LIGADURA: Liga das Senhoras Católicas
ÂNULO: Filete colocado por sob o bocel da cornija do capitel dórico
BOCEL: Corruptela de boçal
ÂNUS: Pronúncia errada de anus (aves da família dos cuculídeos)
KU: Lua em finlandês
COU (pronuncia-se cu): Pescoço em francês
HIPOCAMPO: Campo de hipismo
PROCLAMAS: Alvoroço de amas
MISANTROPIA: Entropia de Méson Mi
DEMOCRACIA: Poder do demo (amei essa)
PARADOXO: Oxiúros em estado de repouso (parado)
REPÚBLICA: Ré muito manjada

Bom dia, leitor! Tá contente?

CONTENTE: Filho do ente de Heidegger (informe-se) com Cohn-Bendit (informe-se)

Hilda Hilst (domingo, 13 de setembro de 1993)



Que acha de inventarmos outros? Mandem sugestões!!!

.:é isso:.

5 comentários:

Anônimo disse...

magnifcamente sábia...
bjs daqueladosbosqueschendaaqueladailhapolakapoiaartistatudoomaisqueintitularamhehehe

Anônimo disse...

Adorei!!
Como sempre acontece quando leio seu blog me sinto um pouco intelectual...
Parabéns!!!
Ps- as letras na cor laranja dificulta um pouco a leitura, principalmente para quem é um pouco miope como eu.....(pense no caso)

Alessandra Pilar disse...

Brigada, Anônimo!
Mas deixe seu nome da próxima vez, então.
Quanto à sua sugestão a respeito da cor... gostei. Eu também sou míope e só depois que publiquei vi que fica estranho pra ler mesmo. Vou alterar. Brigadão...

Ah! E quem me dera ser intelectual.. aiai...

bjos

Bru Slaviero disse...

a-do-rei.
vou criar muitas dessas.

Bru Slaviero disse...

a-do-rei.
vou criar muitas dessas.

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