sexta-feira, abril 20, 2007

.:Última Flor do Lácio, inculta e bela:.

Andei pela rede lendo e relendo coisas, textos, poemas, crônicas, blogs, matérias jornalísticas, e o que se nota é que estamos mal do Português. O que tem de erros básicos de gramática e de grafia das palavras. E outros erros assustadores.

As pessoas estão lendo menos e cada vez escrevendo mais errado. É de assustar alguns textos que a gente encontra feito por profissionais sem a mínima preocupação com a gramática. Está certo que nossa língua é bem difícil, está certo que acertar a concordância em todas as frases é uma missão para phd's (nem tanto, nem tanto!), mas também não vamos exagerar. E depois, se você trabalha na área no mínimo tem que ter bom senso e aprender a usar o dicionário ou pelo menos passar um corretor ortográfico para corrigir o texto. Sabia que tem gente que nem ao menos sabe usar um dicionário? Será que existe "dicionáriofobia" (hehehe... não existe, eu olhei no dicionário).

Vejo coisas que me espantam. Como podemos sonhar em progredir e nos tornar de primeiro mundo se começamos mal? Um povo para evoluir tem que saber se comunicar e isto não acontece no Brasil. Fico indignada com todo esse descaso com a educação do povo brasileiro. Não sabemos falar, muito menos escrever, nossas crianças não lêem. Como poderemos evoluir se não damos uma base para nossas crianças? Se as escolas estão jogadas às traças e os professores são uma classe inferior? Eu sei que o tema é velho e já está batido. Mas nem tanto, já que muito pouco mudou nesses últimos anos.

Na Era da Tecnologia as pessoas não sabem mais escrever, afinal elas digitam (e muito mal, por sinal). O assassinato da língua começa por aí, escrevem naum ao invés de não, ixkeci, fika assim naum, v6s tão baum? (ai dá até uma gastura). Falar e escrever errado é "bunitinho", tem "xarme", é "da ora". Detesto esses modismos. Nunca mais eu vi uma letra maiúscula no começo da frase. Pontuação? Isso existe? Pra que serve?

Sem falar nos famosos GERÚNDIOS, como irritam. É só você ligar pra algum serviço de informação que a pessoa do outro lado da linha já começa: Pois não, em que poderíamos estar ajudando você? Vamos estar entrando em contato para maiores informações. Você pode estar perguntando para nossas lindas atendentes sobre a sua dúvida.

Será que as pessoas vão estar começando a falar assim daqui pra frente? (Cruz-credo, isso pega!)

Olavo (o Bilac, sabe ?) já sabia disso quando escreveu o poema. Mas será que ele tinha idéia de que ia ser tão ruim? Será que ele imaginava que com toda essa informação disponível para todos, com toda a tecnologia que temos ao alcance das mãos estaríamos no ponto em que estamos? Acho que não. É de assustar. Será que estamos regredindo e um dia nos comunicaremos por sinais gravados em pedra? Será que voltaremos à Era das Cavernas?

É, estou sem perspectivas, sem confiança num futuro menos burro.

Que eu esteja errada!
Enquanto isso, ficamos com o Bilac:


"LÍNGUA PORTUGUESA"

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,


Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac (1865 - 1918)



QUER UM DICIONÁRIO?


.:É isso:.

12 comentários:

Anônimo disse...

maravilhoso!!!!
que bom navegar na internet e encontrar alguma coisa inteligente para ler.
Parabéns!!!

H disse...

O "internetês", como convencionou-se chamar a língua criada pelos internautas, gera uma certa polêmica mesmo, mas dependendo do que pretende quem escreve e o que escreve, por vezes a grafia desconexa, misturando e rompendo com regras, é proposital.

Na Poesia tem-se total lberdade para romper com quaisquer convenções da Língua Mater, desde que tenha a ver com o sentido que se pretende.

E cá pra nós, a Língua Portuguesa tem cada armadilha, que nem todos nós, meros mortais, temos condições de assimilar.

Em muitas situaçõs é possível perceber quando foi apenas um descuido na digitação, se foi intencional para buscar identificação com determinada tribo, ou se foi chacota. Ou preguiça de abrir um dicionário (aliás, tem dicionários on-line para facilitar).

E, em outras, percebe-se erros de grafia que para alguns mortais dói no olho. Leio coisas absurdas, às vezes. Mas somos todos passíveis de errro e na Internet as pessoas estão querendo se comunicar. Creio que, se formos tão exigentes, os bytes serão utilizados apenas pelos pseudo-intelectuais e aí a comunicação vai ficar muito chata.

Há muita gente com pontos de vista, histórias e sentimentos, diversos. E esse é um ganho que só uma área como a Internet, que nunca pretendeu a exclusão, trouxe para nossas vidas. Aliás, há um estudo que trata do quanto as pessoas estão mais à vontade e criativas escrevendo na Internet. Problema este que, na escola, com caneta e papel, sempre foi uma dificuldade para os educadores. Acho que vale um desconto, para todos nós. Tenho 41 anos, e acho fascinante navegar e descobrir como as pessoas são inventivas, com ou sem erros de português. Afinal, alguns internautas são grandes admiradores da Língua, outros nem tanto. E todos necessitam apenas de um espacinho para se expressarem. E aqui, na Internet, seja do jeito que for, ambos se encontram. Com erros ou não.

E o mundo fica mais macio...

H disse...

E ser de primeiro mundo significa o que? Fazer guerras, discriminar, ignorar a diversidade. excluir os imigrantes... acho que o tema merece reflexão.

Por experiência própria, nossas crianças têm lido muito ultimamente. Há uma enorme esforço nesse sentido e os resultados têm sido cada vez melhores.

O problema maior é a distribuição de renda, que torna difícil o acesso aos bens culturais.

Alessandra Pilar disse...

Oi, Hermes... e vamos ao debate! Oba!!!
Eu concordo que a internet abre possibilidades que antes não teríamos. Que as pessoas estão com certeza escrevendo bastante. Mas o tema principal do meu escrito nesse caso foi realmente falar sobre o problema. E na minha opinião, estamos muito mal da língua. E nesse "estamos", estou me incluindo também, pois sou humana e passível de erros a todo o momento. Acho pouco saudável usarmos tanto modismos na escrita da internet. Acho que nossos jovens escrevem tanto assim que acabam por esquecer a grafia correta das palavras. Mas também admiro todos que têm coragem de se expor e publicar seus escritos, é um passo difícil. E eu tenho lido muito blog's ultimamente por isso, pelas idéias das pessoas comuns.
Quanto ao assunto do primeiro mundo, o que na verdade tentei colocar foi sobre o fato de que se tem investido muito pouco na área da Educação e da Cultura (sei por experiência própria o quanto é difícil se viver de arte nesse país, pois a mesma é sempre tratada como irrelevante). Esse é com certeza um desabafo. Pois acredito que somente com Educação e Cultura podemos ser melhores. Mas também não quero dizer que "os" de primeiro mundo são melhores que nós por isso, já que fazem realmente tudo o que você citou acima e outras barbaridades.
E com certeza, o tema merece muita reflexão. E vamos ao debate então!!! A forma mais saudável de conhecer idéias e pontos de vista.

Valeu pelo comentário!!!
bjo

H disse...

E aí? Você não tem nenhuma história de galinhas pra me contar?

Ah, se não tem, inventa!

H disse...

É, nunca havia pensado se galinha pensa... ótima colaboração!

Valeu!

Anônimo disse...

É realmente muito triste o atentando q a internet está fazendo a língua portuguesa. Já é difícil decorar tantas regras gramaticais (eu diria impossível) e ainda as pessoas se acostumam a digitar errado na internet, fazendo o mesmo fora dela também. É lamentável...

Anônimo disse...

Olha o equívoco:(...Olavo (o Bilac, sabe né?) já sabia disso quando escreveu o poema. Mas será que ele tinha idéia de que ia ser tão ruim? Será que ele imaginava que com toda essa informação disponível para todos, com toda a tecnologia que temos ao alcance das mãos estaríamos no ponto em que estamos? Acho que não....)

O que, certamente Olavo não imaginaria é que cultores da língua portuguesa, mesmo dispondo de tanta informação e de tanta tecnologia, não conseguissem entender o sentido básico do soneto dele. A ganga impura e a bruta mina referem-se ao latim vulgar donde veio a flor do Lácio, não aos erros gráficos dos falantes ou escreventes contemporâneos. Ainda bem que, apesar das impurezas de origem e dos desvios de agora, parece que todos continuamos amando a bela e não mais obscura língua portuguesa.

Alessandra Pilar disse...

Olá Edson

Esse tema é fascinante pelo fato de abrir cada vez mais polêmica, não é mesmo? E o tal acordo ortográfico então??? Ainda preciso me centrar para tecer comentários sobre o mesmo.
Enfim, obrigada pelo comentário.
Na verdade sabemos o que o Bilac estava querendo falar na altura, sobre a origem da Língua Portuguesa, mas a idéia do post era trazer à tona o tema, e citar Bilac foi somente para pontuar o que eu estava querendo falar sobre a internet e o problema atual da falta de conhecimento da juventude quanto à escrita correta e os neologismos.
Mas o assunto é polêmico e merece todo o debate que está gerando.
Obrigada mais uma vez pelo comentário.

Venha quando quiser!
;o))

Anônimo disse...

Olá garota inteligente...gostei do texto, mas já que critica tanto quem escreve errado (na net e em textos em geral), sobre a palavra "dicionáriofobia", realmente ela não existe...Mas e se existisse, jamais seria acentuada...certo?

Anônimo disse...

Concordo com você apesar de que somos passíveis de erros, sim.
A intencionalidade do texto foi maravilhosa, visto que somos conscientes de que temos que ler...ler... Temos um vocabulário vasto e no entanto não usamos a terça parte dos verbetes, imagine suas analogias.
Na realidade quem discorda faz parte da corrente dos que fingem que não sabem e não querem ver...

Anônimo disse...

Olá Alessadra, linda você, boas matérias, lindas poesia (Olavo Bilic) Última flor lácio inculta e bela...
Fiz este poema que segue para uma colega de trabalho.

UMA BELA MULHER.

Como a chamaria? Rosa? Não todos os poetas associam a rosa à mulher.

Então margarida? Jasmim? Ou mesmo açucena? Não é muito comum.

E camélia? É uma linda flor. Não, não sinto o olor que quero que tenha.

Essa mulher tem vida, tem luz, ela é simples, toda natural, não cabe nada Artificial.

Seu vestir, seu calçar, seu andar, o brilho de seus olhos, fazem cegos contemplar

A pura e a mais alva luz.

Sua voz é doce, seu sorriso radiante, será um brilhante?

O andar ritmado lembra o andar da gazela, faceira, sugestivo.

Sua pele suave de longe se faz sentir, a pura seda, usada pela a realeza.

Vindo da longícua China, terra do Mandarim.

Uma bela mulher, quando a vejo beijo o seu altar, sim é uma diva.

As minhas forças se debilitam diante de sua formosura.

Meu coração entra em taquicardia, o fôlego se perde em seu ritmo.

Uma bela mulher, a que flor comparar? Consulto o dicionário, não consigo encontrar.

Ela é ímpar, é singular, a nada se pode comparar.

Ela é mulher, é linda, formosa, o coração cheio de amor.

Ela é mulher, irradia a vida, ela é vida.

Lembrei-me! A que flor comparar.

Uma bela mulher, com todos os atributos acima e que ainda irradia vida...

A única flor que merece a ela comparar é: A (SEMPRE-VIVA).

“É UMA FLOR MARAVILHOSA, NÃO TEM PERFUME, MAS, É FORMOSA”

Recife, 25 de setembro de 2008.
Autor: Nalcy Loud.

Espero que goste.

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