terça-feira, maio 15, 2007

.: Acessibilidade :.

Eu aprendo sempre muita coisa nas minhas andanças de ônibus pela cidade. Adoro prestar atenção em conversas dentro dos ônibus, não pensem que sou enxerida não mas o fato é que se ouve de tudo num trajeto pela cidade. E a gente aprende também muitas coisas, e ontem não foi diferente.

Qual não foi minha surpresa ao entrar no "busão" esbaforida (pois quase o perdi e tive que correr um tantinho pra conseguir alcançar a tempo) ao me deparar com um cão labrador. Levei um susto, é verdade.

Mas esse cão não era um cão normal, era um "cão-guia" e estava conduzindo o seu dono. Passado o susto inicial fiquei observando a reação das pessoas quando entravam no ônibus e davam de cara com ele, as reações eram as mais diferentes possíveis: alguns nem notavam o bichinho ali deitado aos pés do dono, outras levavam o mesmo susto que eu, mas logo percebiam a situação e bem... seguiam em frente. Outras ficavam claramente com um ponto de interrogação mas não tinham coragem de questionar. Mas teve um senhor, dono absoluto da verdade que logo que viu o cão fechou a cara e com a maior bronca questionou a cobradora sobre o animal dentro do ônibus, mas ele foi um tanto agressivo quando questionou. Enfim... então a cobradora com a maior paciência informou o cidadão que o mesmo estava ali pois era um cão-guia e estava acompanhando seu dono. O homem saiu, não muito satisfeito com a resposta, mas enfim se resignou. E o que mais me impressionou nisso tudo foi que quando chegou o ponto onde cão e dono tinham que descer, o cãozinho se levantou prontamente e puxou seu dono, o cego questionou a cobradora se era o ponto certo e ela informou que sim. Impressionante!!! Como o bichinho sabia exatamente onde descer. Eu havia pensado nessa possibilidade mas a princípio me pareceu mais lógico que o cego informasse a cobradora onde deveria descer e ela o avisasse quando o ponto chegasse, mas não foi assim que aconteceu. O cão fez seu trabalho e sabia que era aquele o ponto certo.
Depois que cão e dono desceram do ônibus, o comentário de todos foi o mesmo... às vezes nos achamos mais inteligentes que os animais. E estávamos todos boquiabertos pela inteligência daquele bicho.

Mas tudo isso me fez pensar sobre a "acessibilidade" das pessoas com algum tipo de deficiência. No caso em questão, se a cobradora não fosse inteligente e se saísse bem da situação poderia ter-se criado um problema com aquele cidadão que resolveu achar ruim o fato do cão estar no ônibus.
Mas em outros casos vemos como andam mal o acesso aos mais diferentes lugares no nosso país. Aqui em Curitiba até que não vamos "tão" mal e os poderes municipais até que cumprem com suas obrigações e com o direito de todo o cidadão de ir e vir: temos calçadas com guia rebaixada, temos sinalização sonora nos semáforos (pelo menos em alguns no centro da cidade), temos uma linha guia no calçadão para os deficientes visuais poderem se locomover com segurança, as estações tubos permitem o acesso de cadeira de rodas, e muitos horários nos ônibus comuns possuem o dispositivos para as cadeiras de rodas também.

Mas a coisa não é assim em todo lugar. Sabemos que as cidades brasileiras ainda não são adequadas e pensadas para o acesso de todos os cidadãos. As nossas calçadas são em sua grande maioria precárias e não possuem a guia rebaixada. Em diversos lugares não tem nem ao menos espaço para a cadeira de rodas poder circular. E chegamos ao ponto de, em alguns lugares públicos, ser impossível o acesso do deficiente.

Outro dia fomos visitar o Parque Nacional do Iguaçu (as famosas Cataratas do Iguaçu), patrimônio da humanidade e notei o fato de que se alguém tiver algum tipo de deficiência não poderá visitar esse ponto turístico pois não terá acesso ao mesmo devido à falta de planejamento. E olha que aquilo tudo é administrado por uma Concessionária que cobra entrada (e bem cara!!!), nem os ônibus que você é obrigado a pagar para chegar até o Parque Nacional contam com o dispositivo para deficientes físicos. Chegando no Parque a coisa piora... e muito! As trilhas são impossíveis para quem tem algum tipo de dificuldade, e não falo somente de deficientes não.... falo também dos idosos, pois é tudo com escadarias e um corrimão de madeira precária e podre (outra preocupação, tive o maior medão que crianças despencassem cachoeira abaixo, pois o corrimão de madeira não nos dá a mínima segurança), sem contar o limo presente em toda a trilha devido a umidade constante lá né?

Você então pode dizer: ai, que exagero... afinal tem o elevador panorâmico para essas pessoas com dificuldade, certo?
Errado!!! Afinal para se chegar ao elevador você terá que transpor uns 10 degraus e correr o risco de não escorregar em meio aquele piso onde você pode olhar a cachoeira lá em baixo. Tive que andar pisando em ovos pra não escorregar e cair, e olha que eu estava de tênis. Eu só pensava naquelas senhoras e senhores idosos que dependem de bengala para se locomover... impossível chegar até o elevador e se deslumbrar com aquela visão impressionante da natureza.

Parece besteira, mas a gente não se dá conta disso. Dessa falta de respeito pelos cidadãos. Ainda mais num ponto turístico pago como esse. Tá certo que querem que se visualize lá embaixo a cachoeira, mas o fato de não ter uma passarela emborrachada para quem tem algum tipo de vertigem ou dificuldade de locomoção é um absurdo. Ouvi uma infinidade de pessoas reclamando desse fato e realmente com medo de escorregar.

E bem porque, não é pedir demais pois é um direito garantido por lei o direito de ir e vir, o acesso aos órgãos públicos ou não. Mas as autoridades andam fazendo pouco caso desse direito. E é mais fácil fecharmos os olhos para o problema do que tomar atitudes para resolvê-los.

Fato é que nossas cidades devem ser melhor planejadas para permitir o acesso de todos os seus cidadãos que, como todos nós ditos normais, pagam impostos e votam.

Precisamos tomar consciência disso e mudar. Fazer melhor.

.:É isso:.

3 comentários:

Bru Slaviero disse...

pois é.
é exatamente isso que eu acho.
Uma prova disso é q tu tb não achou sentido no teu guardanapo.
hahahaha

por sinal, eu ganhei o caderninho verde de brinde semana passada, antes ou eu anotava na minha agenda ou perdia os pensamentos.
sempre é bom ter um, e não tirar nunca da bolsa.

não consegui ler teu texto (tô no trabalho) mas vou ler qndo chegar em casa.

besitos

Anônimo disse...

Oi Alessandra

Concordo com vc...
Existem ruas em Curitiba que é impossível andar até de salto alto.
O desrespeito e o descaso por parte do nossos governantes é visível.
Portanto, só nos resta pensarmos melhor na hora de elegermos os nossos representantes.
Beijos.....

André Lasak disse...

Opa!

Já te linkei também! Está lá na Máfia, letra A.

Beijão!

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